Como escrever uma recensão? O problema do estilo de escrita
Como escrever uma recensão?
O problema do estilo de escrita: algumas sugestões.
"O estilo
[...] Não receie as correcções, não se deixe desmoralizar pelas inúmeras emendas que possam ocorrer numa primeira fase de escrita. Não esqueça que só a versão final será avaliada, pelo que todas as sugestões de aperfeiçoamento do estilo e da linguagem devem ser bem-vindas ao longo do processo de escrita.
Uma tese [...] não é um texto literário, pelo que deve resistir a tentar persuadir o leitor com artifícios retóricos próprios de um texto de ficção ou de um texto poético. Na prática, há muitos preceitos a seguir, que tentaremos resumir:
Não usar expressões de convencimento do tipo:
“É claro que...”
“Sem dúvida que...”
”É evidente que...”
“Não restam dúvidas...”
“Obviamente...”
“Indiscutivelmente...”
Estas expressões indicam que o autor está absolutamente convencido da verdade do seu discurso, o que pode sugerir que quem lê este discurso é ignorante dessa verdade. Por outro lado, indicam que o autor não está disposto a discutir as suas ideias, que adopta uma postura pouco humilde, o que é contraproducente de quem se espera abertura para o diálogo científico.
Não abusar da terminologia científica da área a que a tese pertence. Um excesso de terminologia técnica, em particular aquela que é criada ou transportada para a investigação específica que se desenvolve, pode alimentar um discurso hermético e autotélico. De certeza que terá de recorrer a um vocabulário específico, mas faça-o com moderação e oportunidade.
Preferir frases curtas e evitar as paráfrases (por exemplo, em vez de escrever “neste momento em que estamos”, é preferível “agora”).
Não escrever longos parágrafos, mas também não se deve optar por um excessivo número de parágrafos, como se de uma lista de factos e observações se tratasse.
Evitar a voz passiva, que não é apreciada no discurso científico e não raro produz incorrecções no uso dos particípios irregulares. Em vez de “A participação do Estado foi avaliada”, escrever “Avaliei a participação do Estado”. Se quisermos evitar a subjectividade do discurso, podemos optar por um registo impessoal do tipo: “Avaliou-se a participação do Estado”.
Evitar a todo o custo o recurso à adjectivação. O adjectivo é um dos grandes inimigos do discurso científico. Expressões do tipo “este extraordinário livro”, “o excelente autor” ou “esta luminosa ideia” não são aceitáveis num trabalho académico. O mesmo é válido para o abuso de advérbios de modo e de orações relativas.
É muito útil ter sempre à mão um prontuário ortográfico e um dicionário de sinónimos (a maior parte dos processadores de texto actuais incluem estas ferramentas).
Para os casos de certas formalidades de estilo e de composição, consultar diversos manuais. Consulte o seu orientador sobre as obras que melhor se adaptam às exigências particulares do seu programa de doutoramento e da instituição a que pertence. Para a língua inglesa, os mais completos e os mais recomendado manuais de estilo são, nos EUA, MLA Handbook for Writers of Research Papers (4ª ed., MLA, Nova Iorque, 1995) e no Reino Unido, MHRA Style Book (4ª ed., MHRA, Londres, 1991); para a língua portuguesa, consulte por exemplo, Normas para Apresentação de Trabalhos Científicos (3ª. ed., Presença, Lisboa, 2000), de Carlos Ceia".
Autor: Carlos Ceia
Site: http://www.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/guia-teses3.htm#AS%20PARTES